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A queda de Bolsonaro não encerra de vez a sabotagem da extrema direta no país. A internacional neofascista já se organiza e busca pescar os desorientados nas águas turvas do colapso olavista. Vejamos aqui a nova-nova direita, Dugin e seus “nazionalistas” anti-América Latina.
Nesse momento os reacionários verde-amarelo nas portas dos quartéis revelam duas informações importantes:
- 1º, estão desorientados em termos de narrativa que dê sentido e organização às suas ações, exemplo claro é serem repetidamente vítimas de notícias de humor troll, trocadilhos não notados e afins.
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2º, esse vácuo olavista permite às facções antes impotentes tomar a liderança discretamente, sem mudar sua constituição minúscula porque não precisarão disputar com uma liderança estabelecida. Na verdade, basta agir oportunisticamente na eliminação do ex-líder e o espoliar.
Assim, há algo que a luta antifascista precisa assimilar: a marcha reacionária não é uma frente única e coesa. É uma bola de cobras que imita aspectos do ambiente, serpenteia, ilude com chocalhos e morde no lado que abrir a guarda. Hoje os agentes de Dugin dão um claro exemplo dessa natureza
No congresso duginista que ocorre em São Paulo, junto de gente como o milico “ex”-bolsonarista Farinazzo e o chauvinista banderista Aldo Rebelo, vemos um personagem curioso, Alejandro Vásquez.
É um peruano que, junto de outro comparsa da Nova Resistência, Israel Lira, vem organizando uma plataforma “Iberoamericana” para promoção da agenda de Dugin.
Assim como hoje a Nova Resistência (NR) optou por esconder sua estrela amarela do caos com a imagem de Vargas e do nacionalismo (ideia que na verdade se opõem por ser lida como forma menor do verdadeiro objetivo, o imperialismo racial), no Peru sua contraparte esconde-se sob o nome Crisolista.
A história de Lira, Vásquez e o movimento Crisolista é bem curiosa, vamos entender separadamente. No vídeo aqui Israel Lira “condecora” o líder da Nova Resistência, Raphael Machado.
Israel Lira começa sua carreira em 2009, quando preso com sua MNSDP (Movimento Nacional Socialista Desperta Peru) por um imbróglio envolvendo armas de fogo. A sua organização neonazi trouxe também Marcos Ghio para palestrar em universidades locais. Dois anos depois Lira e a MNSDP seriam expostos novamente na mídia.
(Ghio é um neonazi argentino suspeito no atentado do centro israelita em 1994, com 85 mortos e 300 feridos. Dois anos depois de Lira, membros da Nova Resistência/Sol da Pátria, neonazis do portal Inacreditável e César Ranquetat, do governo Bolsonaro, mobilizariam o mesmo personagem nefasto no Brasil)
Exposto ao ridículo da sua condição, inclusive por seus pares no mais famoso fórum neonazista, o Stormfront, Lira migra para a organização nazi “vermelha” Acción Legionária. Um vídeo desses strasseristas parece quase que tirado diretamente de uma esquete do Porta dos Fundos ou Hermes e Renato.
(Luis Málaga, fundador da Acción Legionária com Israel Lira, que tumultuou o resultado das eleições em favor de Keiko Fujimori, se infiltrou e concorreu no partido de esquerda Unión Por El Peru. Na imagem, dá seus pitacos para os camaradas peruanos “politicamente incorrectos”)
La Legión, enfrentando dificuldade e retaliação do povo peruano por motivos óbvios, acaba vítima de si mesma. Um assassinato torpe e covarde por parte de um camarada de Lira leva ao caos interno. Lira segue numa mobilização de propaganda da organização, chamada Crisol & Acción, uma espécie de MBL nazista.
Com o fim da legião, Lira se une a Alejandro Vásquez no mergulho duginista e suas raças espirituais, numa organização chamada Segunda República, depois rebatizada de Crisolismo, que pretendia tomar a universidade via filosofia, ocultando sua trajetória neonazi no caminho.
Vásquez tem uma relação bem mais sofrida com sua própria ancestralidade e aparência. Ele opera com o codinome Zero Schizo sem sua foto real na internet há um bom tempo, onde conseguiu um impressionante currículo com neonazistas do mundo todo.
Por exemplo, podemos facilmente encontrar ele explicando para o neonazi da Alt-Right americana, Erik Striker (Joseph Jordan), seu longo trabalho traduzindo e divulgando literatura nazista no Peru:
Ou momentos engraçados e justificáveis, como o Holocausto.
Imagem rara de Zero Schizo com sua verdadeira ancestralidade exposta:
Seu contato com a alt-right no entanto não é eventual, ele escreve para a revista Radix do infame nazi Richard Spencer. Também editava a revista que se vendia como “a verdadeira direita”, The Revolutionary Conservative, onde o próprio líder da Nova Resistência aparece em traduções dele. Vásquez, quando opera com a identidade Zero Schizo, traduz material do espanhol para o inglês, voltado aos estrangeiros. No Peru, operando com seu nome real, ele tenta sabotar os espaços de estudo indígenas, em favor do supremacismo imperial europeu.
Sua verdadeira afiliação, no entanto, é com a rede Aleksandr Dugin. Apesar do esforço em ocultar, Dugin operou a alt-right não só através da influência da ex-esposa de Spencer, mas do neonazista Matthew Heimbach, fundador do partido Tradicionalista, e através também da New Resistance. Heimbach não fundou a Nova Resistência norteamericana, mas foi, junto com ela, um dos mecanismos de Dugin operar a nova extrema direita de lá.
Richard Spencer por ele mesmo:
Michael “Enoch” Peinovich, Matthew Heimbach e Richard Spencer, líderes da Alt-Right:
Antes do atual período, onde vemos pessoas de esquerda sendo engolidos pela reacionarização da lavagem cerebral neofascista de grupos como a Nova Resistência, a alt-right dos EUA já manipulava por aqui senhorzinhos com pensamento pouco profundo (“tudo é uma conspiração das ONGS!”) e líderes do “neonacionalismo”, que almejam fazer aliança com movimentos bozogolpistas para impedir a solidariedade internacional antirracista. Na imagem, em 2020 o canal que mais tarde viria ser o Geoforça, atual fonte de propaganda e desinformação que se apresenta como “análise geopolítica”. Nos comentários, Vásquez saúda os companheiros.
Imagem: Nova Resistência, Israel Lira e Alejandro Vásquez no Peru organizam o plano de Dugin de substituir o conceito de América Latina por “império ultramarino ibérico”, narrativa onde colonizadores europeus lideram e os descendentes dos nativos subjugados são adorno estético, ao estilo das teses integralistas.
Não é difícil ver que o “anti-bolsonarismo” dessa turma é a continuidade do olavismo, espoliador dos órfãos de “guias politicamente incorretos da história”, de monarquistas dos juramentos nas lajes sem reboco, de ex-neoateus ex-evangélicos atual-ultracatólicos, entre outros. Sua própria ramificação interna revela esse fluxo delirante dos “metapolíticos” em ser aristocracia, brâmanes. Aqui, um fruto da mitose da Nova Resistência: os evolianos do Sol da Pátria, se reúnem com os golpistas e agora abertamente simpatizantes do neonacionalismo, MBL.
A serpente ainda está aqui na nossa casa, só se camuflou com outra bandeira. Acabamos de viver a tragédia do poder na mão da extrema-direita. É preciso impedir que se repita, é preciso esmagar seu ninho.