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A estranha história do termo 3ª Via revela que a era Thatcher do Reino Unido produziu um abismo global ainda mais profundo do que o aparente. Este fio fala sobre a estratégia da extrema-direita pós-moderna na nova hegemonia direitista e recomenda um documentário. Acompanhe: 👇 +
A expressão “terceira via” foi usada desde muito tempo de forma abstrata mas começa a ganhar definição conceitual só no pós guerra, um caminho tortuoso até o sentido atual de fachada para “moedor capitalista com uma cara humana”, a justiça social made by B3.+
O primeiro uso bem estabelecido, no entanto, não veio da ala progressista liberal, mas sim da direita pós-moderna. Nos anos 80, na onda neoliberal, movimentos nazifascistas redescobrem o rebranding como solução a impasses faccionais, surgem a nova National Front e a 3ième Voie.+
Até então, o uso esparso do termo girava em torno de um capitalismo populista, “social”. Essa ala da extrema direita, que revirava o obscurantismo para legitimar a busca pela raça, viu aí a chance que precisava para se reapresentar a sociedade como a nova, novíssima novidade.+
A frase "3ª posição, nem direita, nem esquerda" já circulava entre neonazistas europeus devido a infiltração reacionária no peronismo, fruto das ratlines para América Latina que resultaram na ascenção da AAA e o massacre anticomunista em Ezezia, o pontapé da ditadura argentina.+
Junto a isso as declarações anticomunistas da contrarrevolução no Irã causaram um interesse por personagens dúbios do oriente. Um oportunismo com o livro do líbio Kadaffi, e sua 3ª Teoria Internacional, seria o sinal definitivo para adotarem a numerologia do 3. +
Influenciados por Claudio Mutti, para eles Kadaffi poderia ser o herói que os afastaria do estigma racista, já que naquela altura agia para mover o pan-africanismo a uma liderança semítica, enquanto ao mesmo tempo deixava escapar suas complicadas opiniões sobre negros. +
A Terceira Tentativa Política dizia: Nem racistas, nem antirracistas. Nem direita, nem esquerda. Escorregadio e inconsistente, seu caráter se forjou nos anos de chumbo italianos e na operação norte-americana Gladio: com Roberto Fiore e Claudio Mutti e seu Julius Evola.+
Em 1980, Claudio Mutti e a organização de Roberto Fiore, Terza Positione, do Nuclei Armati Rivoluzionari, explodiram uma bomba em Bolonha, matando 85 pessoas e ferindo 200. Margareth Thatcher concedeu asilo político de 20 anos ao colega direitista fugitivo Fiore na Inglaterra.+
Fiore introduziu ao entrismo da National Front inglesa, que acabara de romper com as facções irmãs mais abertamente neonazistas, as ideias do tradicionalista Julius Evola. Era a forma de reinserir por outra via o nazifascismo histórico em suas veias.+
Seus “Soldados Políticos” incutiram um grande fervor religioso cristão na extrema-direita que visava empurrar a esquerda pra fora da janela de Overton no novo consenso direitista. Raça e território, sangue e terra, agora reapareciam transmutados no discurso espiritual.+
Na França, a 3ième Voie (3ª Via), da onde saiu a gangue neonazista JNR e a Nouvelle Resistánce, tomaria o tridente como símbolo. Na atualidade, a 3ª Via alemã (Dritte Weg/III Weg) permanece apostando na marca. +
A Daily Kos, hostilizado blog de esquerda de um ex-militar e cristão, publicou uma interessante matéria sobre a ala pós-moderna da extrema-direita contemporânea que se reencontra com a extrema direita liberal, no fervor religioso renovado. Enfim, oposição controlada. +
Ironicamente essa movimentação da National Front culminou no colapso da própria extrema-direita inglesa, num processo de facada nas costas mútua. Mas isso é uma história para outro fio! O trecho do documentário sobre o assunto pode ser encontrado aqui:
A história de Mutti e cia e o mundo islâmico foi simplificada, para entender a manipulação de movimentos terroristas de direita no 3º mundo recomendo o livro Steffano Della Chiale - Potrait of a Black Terrorist (em inglês)
EXTRA 1. Sugestão de mais algumas imagens curiosas: a estética de um casal detido na operação Bergon, acusado de realizar treinamento paramilitar neonazista; um membro da Nova Resistência que vem recrutando jovens incel na rede; propaganda antiga deles; livro da NF evolizada.
